sábado, 30 de março de 2013

Liderar a si mesmo


Sim, todos somos líderes em potencial, próprios a gerir os passos pela existência viva, coordenar nossas ações diante dos dias. O que de comum acontece é largarmos nos braços alheios tais oportunidades, perdendo o direito de criar as condições mínimas de planejar e executar o mundo à nossa volta, a maneira. O brilho dos indivíduos nasce da possibilidade infinita da criação do ideal que nos conduz ao progresso e à paz.

No entanto há nisso, nessa entrega fácil ao destino ocasional, acomodação, sobretudo esquecidos das verdades maiores da criatividade e do trabalho. Poucos, uma minoria qualquer, aceita o desafio e resolve sustentar a firmeza de produzir condições de crescer nos pés e pernas, e evoluir numa proporção maior do que a massa ignara.

Criam-se líderes imaginários a título de preencher o espaço deixado pela pouca iniciativa que lhes caberia no concerto das horas. Escolhem desde astros pop internacionais a marginais dos noticiários policiais ou políticos, líderes do passado histórico, tipos populares, atores e atrizes da cena diária, o que encobre o ânimo de estabelecer as bases necessárias a resolver o drama individual de uma ausência de iniciativa pessoal. A mídia também usa isso, da coragem pouca das plateias em deixar de consumir e começar a fabricar o roteiro particular de si mesmo.

Contudo, existe objetividade no preceito de buscar o domínio da personalidade e andar com os instrumentos de orientação ao sucesso possível e abandonado, o que exige força de vontade, estudo e prática.

Bom, quis entrar em assunto tão essencial face ao gosto de animar quem pensa haver chegado ao final da linha sem descobrir que as paralelas se encontram no infinito. O infinito somos nós mesmos, em tudo por tudo. O início e o término das caligrafias e lendas. O barco e a outra margem do tempo eterno.

Vencer os demais demonstra força bruta, vencer a si já pede mais sacrifícios em termos de humildade. Assim, qual quem conduz exército bem equipado, de mãos fortes que possamos achar o trilho da compreensão do Universo e ganhar a intenção de comandar o céu em Si, qual função de real felicidade.   

sexta-feira, 29 de março de 2013

Politeísmo galopante


Olho gordo da fé de muitos peregrinos, essa mania de querer abraçar o mundo com as pernas, buscar tudo de tudo, jeito de quem não tem objetivo certo e agarra o que vê pela frente, avança no semestral de comer num dia a ração do mês inteiro. Isso de olhar de longe e já gritar que é dono. O impacto dos capitalistas agressivos de registrar as riquezas do subsolo sem nem conhecer onde fica aquele chão de todos.

Nos tempos dagora, há tais instintos avassaladores parecidos os mesmos antigos bárbaros da Grécia e de Roma, que adoravam dezenas de figuras imaginárias a título de garantia das benesses dos deuses amigos seus. Cada fenômeno da natureza correspondia a um deus particular. Havia como que ausência absoluta de integração das variáveis feições do grande todo universal, aceitos adiante, na civilização posterior, sob o aspecto do monoteísmo, fator de aprimoramento das visões espirituais dispersas em quantos fragmentos espalhados pelos templos.

Mas os séculos transcorreram céleres. Novos costumes e novas tradições viraram moda. Interpretações da filosofia impuseram atitudes ao pensamento difuso e criaram a concentração das forças vivas num só desejo de Verdade.

No entanto mudaram de novo e quase esqueceram o sentido das experiências do passado. Voltaram a repartir as definições da visão de mundo, e os deuses regressaram mais fortes ao panteão da vez atual.

Resultado: aonde se vira, um deus sacode sua bandeira de variadas cores. Os adoradores de Baco, deus do vinho, farreiam pelas calçadas de bacanais eletrônicas ensurdecedoras. Ali, os seguidores de Cupido gastam horas desfrutando os prazeres das noites improvisadas  dos reality shows nas telas de televisão. Marte sacode paredes e destroem lares de reinos conquistados no Oriente, expulsando populações inteiras aos acampamentos do deserto. Filhos de Hefesto seguem alucinados a produzir armamentos forjados em vil metal, alimentando os apóstolos de Tanatos, deus da morte e suas legiões implacáveis.

Era de tonalidades diversas, pois, classifica essa humanidade no rol dos impérios de Caos, o deus de destruição e desavenças. Poucos representam a sinceridade dos mergulhos de Juno, a deusa de duas faces, que esqueceu na eternidade de procurar a unidade do Deus único da perfeição.

Marco zero


Cedo da manhã, ligo a televisão e ouço que a Coreia do Norte segue nas ameaças de guerra aos Estados Unidos, com ogivas nucleares a isso preparadas, e a sensação é de que nada mudou durante toda história da Humanidade. Somos de geração cevada na Guerra Fria, fase depois da Segunda Grande Guerra, quando russos e americanos trocavam hostilidades a fim de dominar os mercados mundiais largados abertos com a derrota alemã e japonesa no conflito perverso.

Vieram divisões das fronteiras do mundo, Cortina de Ferro, Muro de Berlim, Paralelo 17, escambau a quatro, tropas de dois lados armadas até os dentes, comércio internacional de armas, corrida armamentista, corrida espacial, queda de braços das famigeradas potências atômicas, e as formigas humanas, impotentes, inúteis, observando essa competição dos poderosos, enquanto embalam as carnes pelas naves da tecnologia que endeusam, alvos fáceis nas estradas e ruas. Trancadas em cavernas eletrônicas hermeticamente vigiadas, de olhos fixos nas máquinas luminosas da ilusão, só parecem aguardar as senhas dos telefones vermelhos da sobrevivência dos dias apáticos, indiferentes, embriagadores.

Tempos medrosos de homens frios. De máquinas geniais que passeiam os pensamentos atirados à prisão das massas indefesas.

Na contrapartida da história vã, porém, restam os labirintos de Si Mesmo qual derradeira estação transformadora, vinda em consequência das inúmeras decepções, nas filosofias, psicologias e religiões enfileiradas nos sonhos individuais. O aprimoramento das esperanças foge até dos limites da imaginação quando, pois, expande apenas o egoísmo dos líderes interessados apenas no destino dos povos que comandam. Resolvem seus problemas particulares em detrimento da grande população de um Planeta em chamas. Consomem os recursos naturais a favor de grupos isolados, na condição de gerentes dos bichos selvagens em grupos isolados no falso conforto.

Houvesse mínimo senso de prudência e sabedoria na vontade das ações e perspectivas de união e desenvolvimento acalentariam os corações aflitos. Contudo farpas lançadas demonstram a distância da sensatez que ainda resta percorrer a fim de salvar uma raça faminta de paz e bons sentimentos.

quinta-feira, 28 de março de 2013

A arte da miniatura


Certa vez, visitei exposição do escultor caririense Nélito Gonçalves, no interior do Shopping Cariri, em Juazeiro do Norte. A mostra se compunha de esculturas abstratas e figurações miniaturizadas de utensílios domésticos, peças confeccionadas em casca seca da cajazeira, árvore típica de nossa flora nordestina. Valeu considerar a expressiva qualidade do material exposto, elaborado dentro da melhor técnica e escurecido com acabamento no verniz copal.

Essa oportunidade me levou a considerar outras manifestações artísticas de infinitas potencialidades também na miniatura. A propósito disso, Paulo Tasso Teixeira Mendes, professor meu amigo que mora em João Pessoa, descreveu exposição que presenciara quando, nos anos 60, vivia na Europa e era aluno do Colégio Pio Brasileiro, da Igreja Católica.


Tratava-se da obra de artista brasileiro, gravador em metal e que desenhava figuras mínimas em cabeças de alfinetes. Reproduzia figuras as mais diversas, desde paisagens a monumentos arquitetônicos. Em um desses trabalhos gravou a Basílica de São Pedro, de Roma com os detalhes da bela fachada. Toda a exposição do exímio criador cabia numa única caixa de fósforos e os expectadores ainda precisavam usar lentes para contemplar as pequenas produções mostradas no reduzido espaço.


Diante da minha admiração, Paulo Tasso então me informou que o mesmo lhe acontecera na ocasião, visto o teor de dificuldade do trabalho desenvolvido, quando soube, através do artista, que existem japoneses que descem ainda mais às particularidades da técnica de gravar superfícies mínimas, utilizando apenas a superfície localizada na ponta de agulhas, usando instrumentos milimétricos e equipamentos óticos adaptados para isso.


As miniaturas de há muito merecem relevo no âmbito da cultura, sobretudo nas civilizações orientais, dadas ao esmero do reducionismo. Museus de arte chineses expõem peças dotadas de tal minudência que, por vezes, uma única delas reclama a vida inteira de seu autor para inteira conclusão.


Isso demonstra o infinito do engenho criativo, considerando o valor apreciável das manifestações estéticas no estudo das populações e suas histórias fenomenais.


Aonde chega a sofisticação da criatividade humana neste mundo.

segunda-feira, 25 de março de 2013

O caldeireiro


A gente lê ou escuta as histórias e elas permanecem vagando nos espaços internos da mentalidade criando corpo, incentivando e conduzindo a sobrevivência nos solos férteis da alma, às vezes mais nítidas, noutras, distantes, quase esquecidas. Vezes ganham forças e regressam aos momentos e pedem uma forma, querendo chegar às pessoas de algum jeito.

Esta, pois, que conheci através da Neurolinguística, psicologia prática de unir as palavras nas formulações de pensamentos e oferecer condições de mudar as circunstâncias pessoais, transformando conhecimentos em atitudes.

Ela diz que houve um caldeireiro de navio que, depois de longo curso pelos mares, resolveu pedir dispensa da função e se aquietar em lugar qualquer do interior dos Estados Unidos.

Passados meses da substituição do caldeireiro, aconteceu, em alto mar, de o barco estancar a caldeira, problema que ninguém consertava, parecido quando os burros resolvem acuar num canto sem justificativa clara das suas intenções, se é que burros ou caldeiras têm intenções.

Naquele vai e vem de solucionar o grave problema da caldeira do navio, desesperado, o comandante lembrou o velho caldeireiro, e acharam onde ele vivia. Foram até ele e pediram auxílio.

Já no navio, o homem, que conhecia as manhas da caldeira, aqueceu a fornalha da máquina; mexeu daqui, mexeu dali; auscultou as paredes do tanque de vapor, acionou os controles; e nada. Então, requisitou um martelo grande, com que, calmamente, desferiu porretada monumental em lugar determinado da engrenagem.

Sem mais, nem menos, a caldeira estremeceu por dentro, chiou fundo resfolegou demorado como que toma fôlego e voltou a se movimentar qual animal que voltasse a viver. A alegria estampou no rosto dos marujos e o barco ganhou vida nova.

No dia seguinte, o caldeireiro foi chamado ao escritório da companhia. Iria receber o pagamento da tarefa solicitada.

- Mil dólares – de imediato, o profissional pediu pelo serviço.

Com isso, deixou admirados os donos da empresa, pois acharam a soma demasiada:

- Mas mil dólares só uma marretada, o senhor não acha que é muito, não, por trabalho tão pouco?!

Bem humorado, o caldeireiro riu, logo em seguida respondendo:

- Bom, pela marretada cobrei apenas um único dólar. Os novecentos e noventa e nove restantes custaram por saber onde aplicar a marretada que utilizei na caldeira, e lhe reativar as funções. 

quinta-feira, 21 de março de 2013

O leão e o macaco (conto popular)


Lá certo dia, o leão vendo o risco de deixar este mundo sem nunca haver experimentado da carne do macaco, resolveu conquistar o sagaz animal e satisfazer seus apetites. Chamou a raposa e, juntos, criaram espécie de plano que correspondia a uma audiência permanente com todos da floresta bem dentro da gruta que lhe servia de esconderijo.

Daí, começou o movimento, vindo bicho de tudo quanto era canto. Os convidados entravam na furna e passavam horas, depois saiam sem revelar o que acontecia entre eles e o Rei.

Naquilo, o macaco, observador por natureza, ficou de butuca em cima das árvores das imediações, desconfiando que alguma tramoia se desenvolvia na área, envolvendo tanta gente.

Tempo vai, tempo vem, e nada dele tomar gosto, acordar a curiosidade característica e também chegar para negociar com o chefe da floresta.

Nisso, o leão resolveu mudar a tática e ele mesmo veio até a frente da morada a fim de estabelecer diálogo com o símio ainda pendurado no alto das árvores maiores, longe de suas garras.

- Sim, compadre macaco (que os bichos gostam de tratar uns aos outros desse jeito) – foi falando a fera monumental, enquanto sacudia a juba meio parecido que contrariado. – O senhor vive distante das atividades do meu reinado. Quer contar o que se passa nessa cabeça, meu irmão? – perguntou o soberano, querendo impor autoridade nas palavras.

- Ah, majestade, ando sobrecarregado de compromissos por causa das invasões dos humanos explorando e querendo tudo só pra si – explicou o macaco, já de olhos acesos diante da força do leão.
- Pois, então, amigo velho, entre e venha conversar nos problemas que atravessa, que decerto oferecerei a tranquilidade que procura para suas preocupações.

- É, majestade, mas analisei bem o seu jeito de atender aos súditos. Notei coisa esquisita e quero salvar minha pele. No chão defronte da porta de sua gruta há muito mais rastros de animal entrando do que saindo – e dizendo isso, mais que ligeiro sumiu desembestado quebrando cipó no eito da floresta, e nunca que quis maiores aproximações com o leão e sua fome de carne de macaco.  

quarta-feira, 20 de março de 2013

Gol, a matéria prima do futebol


Isso equivalente de gol é o motivo do sucesso dos times nos gramados desse mundo inteiro. A que lado se virar, movimentar as ações dos zagueiros e seus combates infinitos, as defesas magistrais dos goleiros, armações inconfundíveis dos alas, nada disso significaria suficiente ao coração dos torcedores não fosse o gol inesperado nascido dos pés do artilheiro. Nada disso e coisa alguma, inexistisse o gol, momento máximo dos escores e dos campeonatos.

Toque de bola, a circulação do sangue da bola, desde a retaguarda, e eles avançam gradativamente pé ante pé na sede das traves, invadem a grande área quais mágicos habilidosos de nervos e pulsações lá dentro do peito da galera em festa ao grito de mais um, trepidação nas arquibancadas desta vida surpreendente. Sopapos e sentimentos amargurosos nos adversários, silêncio de expectativa frustrada na torcida contrária. Alegria e fama dos vencedores.

Assim também aqui no chão dos comuns mortais. Palavras que enchem caçuás inteiros de conversa jogada fora, planos, projetos e intenções insatisfeitas, no entanto se se pretender mesmo avançar no manjar de tudo, lá está o canto da trave, e de chuteira direita o atacante fulmina, e o arqueiro fracassa no pulo perdido, salto felino monumental infeliz. Doutras vezes, o esquadrão desliza no tapete das paixões da tarde de domingo, suave qual bolas de espuma nas calçadas do País; ali desenvolve o cronômetro ansioso parábola infinitesimais do aproveitamento das melhores chances...

Goelas dos locutores rasgam o brado altivo da felicidade dos estádios e das praças, enquanto corre à toa, nos palcos desta vida, resolve pouco, quase coisa nenhuma, diante da esperança do sistema do treinador, e que façamos resultados no placar dos finais das partidas, força da mídia, sabor do mérito da cotação milionária dos passes desses atores fundamentais.

Houvesse treinos coletivos e preparações individuais sem o gol no fim dos corredores, as telas de nada importariam tão pouco nos instantes das tomadas de decisão nas jornadas esportivas. Ali o crivo no calendário da plateia em delírio no instante daquele tento inesquecível, placa no estádio, bem junto do portão principal.

Tome bola, golaço, replay, a bomba lá dentro do filó, a hora sagrada dos tentos geniais , trinta e seis minutos da etapa derradeira. Tome bola, dona felicidade! Instante esse dos plenos da realização humana exemplo de concretização dos sonhos da vitória e melhores condições na estrutura física dos esportes, peças e bolas em movimento no tabuleiro das jornadas. Clímax de tudo isso na história das emoções e atividades insistentes rumo à conquista das movimentações inevitáveis. Dois tempos de caminhada e concretizações definitivas rumo ao infinito dos destinos eternos.  

terça-feira, 19 de março de 2013

O Mandarim


Na página do livro que lia, Teodoro deu de cara com a improvável perspectiva de, ao tocar uma campainha mostrada pelo Tentador, virar herdeiro universal dos cabedais infindáveis de Ti-Chin-Fu, um Mandarim mais rico que a fábula e a História contam

- Ele soltará apenas um suspiro, nesses confins da Mongólia – acrescenta Eça de Queiroz, no conto que leva o nome de O Mandarim. – Será então um cadáver: e tu verás a teus pés mais ouro do que pode sonhar a ambição de um avaro.

Nesse trabalho, o escritor narra vivência fictícia de funcionário que se depara com trecho de obra antiga onde via a oferta de ganhar aquela fortuna sob a única condição, em pacto perverso, acionar o dispositivo e eliminar, bem longe, na China, nobre ancião que brincava de lançar papagaio em campos verdes de relva.

Sem hesitar, o mero sonhador aciona aquele instrumento letal:

- Foi talvez uma ilusão – segue o texto; - mas pareceu-me que um sino, de boca tão vasta como o mesmo céu, badalava na escuridão, através do Universo...

- ... E nos braços frios tem o seu papagaio de papel, que parece tão morto como ele – desfecha o autor português.

No seu torpor, Teodoro ainda notou o sujeito saindo da sala, carregando um guarda-chuva debaixo do braço.

Dentro de breve tempo, veja só no que se deu.

Com o passar de um mês, quem antes sofria diante das míseras exigências da mediocridade financeira, rápido pôs-se a juntar milhares de contos de réis tornados milhões, da noite ao dia, na outra vivência, pondo-se a cogitar real a visão em que se metera, naquela chance ofertada pelo Vadio. Arriscara ao menos para saber da verossimilhança do que agora lhe fervia de remorsos cruéis face ao critério vigoroso da consciência.

Depois disso, choveu na horta do ex-amanauense, a viver mundo de repetidos sonhos. Disparara o botão da pequena caixa e na remota Catai dera fim aos dias do velhinho brincalhão em campinas solitárias. Gesto simples, caldo infeliz; igualmente, tornara-se o dono absoluto de toda sua fortuna.

Antes disso avaliara prováveis conseqüências de coisas sonhadas e não via porque admiti-las transpostas ao mundo físico. Uns admitem a possibilidade; outros, não; e era do segundo grupo, ainda que nele a vida fosse mais difícil, nas contas, nas repartições, na cidade. À sorte em poucas esquinas sorrir. Estudara os detalhes do conflito, as condições morais da resposta que dera na dimensão impossível.

Contudo, mais adiante viajou aos países longínquos do Oriente. Chegou na China, buscou comprovações e o mandarim na verdade existira, para seu desconsolo.

Até que um dia também volta aos braços da morte e abandona os bens que reunira na desventurada atitude.

Para desfechar o conto, resume numa frase seu genial autor: Só sabe bom o pão que dia-a-dia ganham as nossas mãos: nunca mates o Mandarim!

domingo, 17 de março de 2013

I Fórum das Águas


Dias 22 e 23 de março de 2013, sob o signo do Dia Mundial da Água (22), dar-se-á, em Juazeiro do Norte, o I Fórum da Águas da Região do Cariri. A congregar instituições diversas, desde órgãos oficiais, câmaras, prefeituras, secretarias estaduais, universidades, clubes de serviço, associações comerciais e organizações não governamentais, o acontecimento envolverá a produção de meios destinados a avaliações e posteriores soluções quanto à utilização racional do bem mais precioso da natureza, a água.

Sabemos da importância vital desse uso da água na face do Planeta. Índices severos registram o crescimento vegetativo da humanidade, no entanto em flagrante desproporção no que tange a alternativa de sobrevivência, porquanto há limitação dos níveis da água em tudo quanto é lugar. Comunidades padecem a carência desse valor inigualável em termos econômicos, motivo, inclusive, de desavenças inúmeras no seio das populações espalhadas pela Terra.

Diante tais cogitações, o propalado oásis do semi-árido nordestino, o Cariri cearense, redesenha as forças vivas da sociedade querendo reagir aos desafios da destinação das reservas aquíferas, de acordo com a presente movimentação.

Numa iniciativa da Universidade Anhanguera, sob apoio da Associação Comercial e Industrial de Juazeiro do Norte e de setores vinculados a lideranças empresariais e classistas, surgem as primeiras manifestações ordenadas no sentido da preservação dos recursos naturais, sobretudo neste momento de longas estiagens anuais que vitimam rebanhos e esvaziam reservatórios essenciais aos municípios de toda a Região.

A proposta em pauta conduzirá, pois, a clima próprio os setores responsáveis por conceber os instrumentos eficientes de organização do universo caririense, ora numa época histórica de estruturação das suas comunas centrais em região metropolitana, desenvolvimento humano de área estratégica ao mundo físico dos que aqui habitam.    

Em data urgente, sendo bem aproveitada a ideia, isso corresponderá ao melhor aproveitamento das demandas potenciais dos tempos e costumes, na busca de sustentabilidade e conforto do progresso coletivo.

sexta-feira, 15 de março de 2013

Edith Piaf, o cantar do coração

Nisso de buscar música na internet, quis reaver algumas canções de Edith Piaf, cantora francesa da primeira metade do século XX, cujos discos costumava ouvir dentro das noites baianas de apartamento.

A bela voz e as lindas canções, quais No je ne regrette rien, Les amants, La vie en rose e L'hymne a l'amour, da pequenina intérprete, demonstram o quanto de permanente há na criação artística para além das ilusões que desaparecem nos transes cotidianos.

Mulher de personalidade marcante, Edith Giovanna Gassion se destacou entre as vozes definitivas da fonografia mundial. Talento ímpar, Edith Piaf se consagrou também através de inúmeras histórias que protagonizou, algumas delas que falam dos momentos trágicos que vivera.

Nascida em 19 de dezembro de 1915, sob o claro de um poste de Paris, filha de pais artistas; a mãe, cantora; o pai, acrobata de rua; vivia solta nos bulevares junto com outras crianças pobres e maltratadas. 

Vítima de inflamação nas córneas, logo na infância sofreria de cegueira temporária, que curou após promessa com Santa Teresa de Lisieux. Acompanhava o pai e recolhia as moedas que lhe jogavam no decorrer das apresentações, numa fase de muita privação, o que marcou sobremodo a sua personalidade.

Na adolescência, se iniciou na música cantando nas praças de Paris ao lado de Simone Berteaut, com quem formava dupla. A amiga lhe conduzia no submundo da metrópole, despertando sua voz forte a troco das gorjetas dos admiradores.

Aos 18 anos, deu à luz Marcelle, filha do amante Petit Louis, morta de meningite com apenas dois anos, em 1935, ano quando Edith foi descoberta para a fama em tarde fria de outono, ao cantar nas calçadas para sobreviver, e, por acaso, chamou a atenção de um empresário das casas parisienses. 

Conheceu vários amantes, chegando a viver intenso romance com Yves Montand, o célebre cantor e astro do cinema francês da primeira metade do século.

Em outubro de 1949, quando realizava turnê pelos Estados Unidos, pediu para que o pugilista Marcel Cerdan, seu namorado daquela ocasião, lhe fosse ao encontro. O lutador pretendia seguir de navio desde a Europa, viagem que duraria uma semana. A cantora, no entanto, insistiu para que viajasse de avião. Daí jamais voltaria a vê-lo, pois o avião Constellacion em que seguia caiu sobre os Açores, na travessia do Atlântico.   

Piaf chamou a si a responsabilidade pela dolorosa perda, nunca se refazendo, ocorrência que assinalaria em definitivo a larga carreira de sucessos.

Depois, ainda sofreria dois graves acidentes automobilísticos, motivos de danos à saúde, deixando-a arrasada sob o uso constante de morfina e álcool, vítima de irreparáveis sequelas.

Em 1956, livre do álcool, percorreria países da América Latina em apresentações que duraram perto de cinco meses. O sofrimento com a perda de Cerdan nunca esqueceria, e os prejuízos ocasionados pelos vícios pouco a pouco a destruíram. Com apenas 34 quilos e 46 anos de idade, que, segundo os biógrafos, mais pareciam 60, no dia 09 de outubro de 1963, Edith Piaf deixava este mundo, legando às gerações melodias imorredouras. 

domingo, 10 de março de 2013

A guerra alimentar


Isso de usar qualquer substância a título de alimento, querer utilizar salgados e doces indiscriminadamente que achar pela frente na intenção de satisfazer o paladar, preencher o vazio do estômago adotando bombas que oferecerem o momento qual andar às cegas pelos corredores dos dias, feras famintas e desesperadas se batendo nas portas dos supermercados vítimas do instinto alucinado da ganância.

Quem segue assim nesse passo atravessado atende, pura e simplesmente, à ignorância alimentar que invadiu as geladeiras e gôndolas, praga descomunal algo semelhante àquilo dos profetas chamarem apocalipse, finais dos tempos conhecidos.

Essa horda bárbara de aproveitadores vende lavagens invés de nutrientes, massas contaminadas de dor, a uma humanidade doente, e praticamente dominou as leis de mercado e as leis constitucionais, travando aspirações da saúde pública ideal dos povos em todos os países. Enquanto a medicina exercita o esforço super-humano insuficiente de vencer só os sintomas dos males físicos causados às sociedades.

Ninguém demonstrar qualquer coragem de estudar e desenvolver a consciência da boa mesa, primeira razão da boa saúde, exercício inteligente de desenvolver a medicina preventiva e adotar o alimento qual recurso essencial de sobrevivência sadia. Pois a cozinha é o laboratório da saúde, e poucos ainda recordam disso. Adormeceram sobre as ervas daninhas de comer os frutos de ocasião, sejam na rua, lares ou restaurantes sem critério e acompanhamento, na hora do prazer bomba relógio.

Enquanto que o que era fome se tornou em vilões vitoriosos, triturando organismos de pais, os organismos de filhos queridos, na batalha sem quartel da falta de conhecimento nutricional das lojas do mundo tonto, embebido na ganância suja do lucro dos necrotérios e prateleiras.

A consciência alimentar passaria a gênero de primeira necessidade, diante de tantas aberrações que denominam alimentação, fonte perniciosa da obesidade crônica, das hepatites, diabetes, dos estresses de vários naipes do vício oficiais das drogas permitidas, dos líquidos açucarados, gasosos e venenosos, antropofagia avassaladora.

Eis assunto que foge ao domínio das ações naturais, porquanto todo ano cabe selecionar o que engole, fiscais da alfândega das bocas desavisadas, portas corrompidas de um saúde honesta e necessário a viver com sabedoria. 

quinta-feira, 7 de março de 2013

A linhagem de Honório


Dentre os filhos de Fideralina, Honório Correia Lima sofreria consequências danosas em face da iniciativa de fazer oposição aos caprichos políticos de sua mãe, sendo destituído da Intendência de Lavras a 26 de novembro de 1907. Chegara a deputado estadual. E, em Fortaleza, por graça da aproximação com o Presidente da Província, seria nomeado ao cargo máximo de Lavras, já este ocupado por Manuel José de Barros, de confiança da genitora.

Magoada, Fideralina Augusto quis demover Honório da pretensão, no que desmereceu atendimento. Os dois, com isso, mantiveram diálogos inflamados e sem alternativas positivas. Contam até que Honório miraria rifle na direção da matriarca num momento acirrado.

Isto tudo geraria, da parte da mãe mobilização dos jagunços para tomar no pulso a municipalidade de que o filho se investira, conforme narra a crônica. Determinaria, na ocasião, que os cabras, no entanto, não o molestassem, sob pena da própria morte de quem assim o fizesse.

Das escaramuças, que envolveram a influência também de outros coronéis da região do Cariri, à frente do mando de Lavras restou o meu bisavô, Gustavo Augusto Lima, que também viria a ser deputado estadual, e adiante, no ano de 1911, pereceria vítima de atentado em Fortaleza, no pleno exercício do mandato.
Passada a destituição de Honório, este demoraria algum tempo em Fortaleza, mas retornaria à Região, quando, desde o município de Caririaçu, planejaria nova batalha pelo poder em Lavras, no episódio da invasão da cidade pelo caudilho Quinco Vasques, sem, entretanto, obter êxito.

O andamento dos acontecimentos levaria de volta a família de Honório a Fortaleza, longe dos vínculos troncos originais. A sede do feudo, o Sítio Tatu, onde, inclusive, Fideralina vivera e terminara seus dias em 1919, caberia na partilha dos bens ao filho Gustavo Lima e, posteriormente, aos meus avós, ambos descendentes direto da família.

Hoje, algumas versões que circularam a propósito das atitudes de Fideralina Augusto demonstram as marcas dessa querela a evidenciar o tanto das desavenças internas do clã, no passado. Existem libelos viperinos e maldosos que pintam de terríveis crueldades gratuitas à imagem da lendária cidadã, pondo-a no rol dos títeres mais sanguinários, com acusações à posteridade dos descendentes, impedidos de defesa dados os elementos insuficientes desfeitos na poeira dos tempos. Textos e livros escritos lá fora, alguns no Sudeste, descrevem os incidentes de Lavras da Mangabeira e a participação dos Augustos assacados de modo impiedoso, lançando doses de terror sobre os atos D. Fideralina a ponto de lhe assimilar as práticas individuais à dos piores facínoras.  

Contudo, persiste dúvida quanto à veracidade das tais narrações históricas e do que as ocasionou, sem o testemunho da fidelidade ou frutos, tão só, da inclemência dessas lutas de poder, a considerar quanto carecem de elementos consistentes aos documentos distantes, nas ocorrências antigas. À impessoalidade dos séculos, portanto, igualmente caberá a palavra conclusiva da verdadeira justiça.    

segunda-feira, 4 de março de 2013

O pedido


No Sertão distante, habitava pobre homem, sua mulher e três filhos menores, em casa simples de palha e barro. Nas épocas normais das chuvas, ali existiam suficientes condições de sobrevivência, dando-lhes a terra os gêneros.

Naquele ano, todavia, as condições se apresentaram desfavoráveis; o inverno não veio no tempo certo, esturricando o chão e despindo as matas.

Logo cedo, o casal anteviu os riscos de longo período seco. Assim preocupados, rezaram com força pedindo misericórdia dos céus lembrando o futuro dos filhos, motivo maior de preocupação.

A sucessão dos meses anunciava crise inevitável, quando consumiram os derradeiros mantimentos, aumentando a angústia. O que temiam se deu, pois a seca chegou intensa e possibilidades de escapar se mostraram poucas. No rosto das crianças, os primeiros sinais do abatimento.

Intensificaram ainda mais as orações, qual única alternativa. A fé gritava na alma daquela gente, que por dentro sentia emoções de que esperança viva. Queriam tão só descobrir de que jeito chegaria a salvação da família.

Certa manhã, no período mais escuro, quando abriram a porta, uma surpresa lhes aguardava, um boi gordo apareceu bem defronte da casa a bloquear o caminho dos que quisessem entrar ou sair. Tiveram de insistir a fim de afastar o animal, que retornava tantas vezes quantas saísse da porta.

Durante esse dia, a distração foi a presença do estranho visitante vindo de longe, dado inexistirem fazendas de gado na redondeza, e, menos que isso, pasto de manter vivos os bichos, há tempos desaparecidos.

No dia seguinte, foram iguais as circunstâncias. Os meninos puseram até apelido no bovino, enquanto tangiam querendo tirá-lo do terreiro. No outro dia, e êxito nenhum; o intruso permanecia bloqueando a porta do casebre, levando todos a estudar uma saída de achar pasto para alimentar a rês.

O caboclo conversou com a mulher e decidiu ir à cidadezinha perto, no propósito de saber encontrar o dono do boi.

Chegou à povoação e perambulou na busca das notícias, porém nada descobriu. Meio sem planos, viu do outro lado da praça a igreja, e lá se dirigiu.

No templo, procurou o pároco. Explicou os detalhes da situação difícil que atravessava, falou da insistência do boi em ficar junto da sua família, que mudara a rotina em que viviam.

Depois de alguns minutos em silêncio, o sacerdote perguntou ao caboclo se ele fizera as orações de pedir algum bem a Deus ou aos santos.

Nessa hora, chegou na lembrança do sertanejo a crise avassaladora que defrontava, a fome que sujeitava todos, as agruras do lar. Aflito, calado permaneceu como juntando os elementos do juízo.

Em seguida, o padre aconselhou ao homem que retornasse e abatesse o boi para dar de comer aos familiares, que se tratava do beneficio pedido. Diante do conselho, ciente de haver merecido as bênçãos, supriu a fome e venceu a privação, graças às orações que fizera a Deus.

sexta-feira, 1 de março de 2013

Herança


Nas vastidões geladas do Ártico, em meio a naturais dificuldades, viviam pai e filho, únicos habitantes de cabana modesta, longe dos valores da civilização, num tempo em que pouco se sabia dos atuais degelos, quando se prevê outra glaciação na Terra.

Era costume do povo do lugar a existência das pessoas restrita à capacidade individual para se sustentar do necessário através da caça e da pesca, sob os rigores do clima abaixo de zero. Após a decrepitude, as famílias agiam com naturalidade depositando nas planuras desérticas idosos ou doentes sem cura, qual cumprissem a lei da sobrevivência.

Naquela casa, porém, o filho retardava a providência quanto ao pai já em fase que chegava na época do despejo, quando surgia no filho a disposição de constituir família e iniciar outro sistema de vida, restando-lhe apenas se livrar do genitor e liberar a vaga para noiva bela e intransigente.          

Mesmo admitindo aquele procedimento, o filho insistia manter em casa o velho pai, além até dos hábitos de grupo, pois não sabia justificar o que de vantagem propiciavam as tradições do lugar. Ao menos para si, no íntimo, achava certo querer consigo por mais algum tempo quem tanto sacrifício fizera na sua criação e na continuidade do lar.

Os dias prosperavam, no entanto.  A noiva nutria pelo sogro sentimentos agradáveis, os quais, todavia, diminuíam em face do instinto conjugal. Dotada de especial talento, tecera bela manta que pretendia ofertá-la quando da viagem definitiva do idoso aos penhascos gelados, em data sem muita demora, segundo planejado.

Nisso, não tardou a madrugada quando movimentos diferentes sacudiram a humilde choça. O filho atava os cães ao trenó, reuniu alguns poucos trastes, ligeiros mantimentos, e instalara o pai no meio da carga, fazendo-se a caminho.

Depois de tempestuosa jornada, se viram numa longa planície branca circundada de montanhas sombrias e ameaçadoras. Tão logo o escuro da noite principiou envolver o mundo, cumpriram a parada definitiva. Naquele sítio cinzento, dar-se-ia o desfecho da longa espera.

Sem trocarem palavras, de cabeça pendida no peito, os dois se olharam pela derradeira vez, num adeus quase primitivo, selvagem, assim podemos dizer. O ancião buscou tirar por menos, desviando-se para fora da trilha, de olhos presos na solidão, exercitando compreender o peso daquela hora. O filho refazia o que restava da bagagem; alimentou os animais e deu mostras de ter cumprido a missão, pronto para retornar. Após sacudir no espaço as dobras do relho com que tangia seus cães, de súbito ainda ouviu a voz do pai a chamá-lo:

- Filho, filho! - gritos ecoaram no vazio gelado e de suas mãos pendia a manta que a nora confeccionara. – Quero isso não, é desnecessário para mim. Prefiro que a conserves contigo e uses quando teu filho vier aqui, um dia, te oferecer ao desconhecido.

A expressão sincera do gesto foi mais do que suficiente. O moço viu-se desmoronar de todos os planos que, por muitos anos, lhe saturaram o juízo. E lívido de arrependimento, agindo com rapidez, voltou atrás; recolheu os pertences que deixara; pondo de novo o pai no lastro do reduzido veículo. Começaram a viagem que os levaria de regresso à velha casa de onde saíram.