quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Passar com a verdade


Na tradição popular, existem histórias que perpetuam através dos séculos registros da vida de Jesus os quais passam de geração a geração, suprindo lacunas bíblicas e enriquecendo a imaginação das pessoas de detalhes instrutivos quanto à presença do Mestre divino entre os humanos.

Uma dessas lendas, sem origem definida, por exemplo, narra o episódio da fuga para o Egito, ocasião do morticínio das crianças praticado a mando de Herodes, capítulo abominável daquele período.

Ao notarem a estrela que nascera no Oriente, os reis magos haviam se dirigido a Jerusalém à procura do Rei dos Judeus. Com suas estadas na capital da província, segundo Mateus, Herodes perturbou-se e toda Jerusalém com ele. Por isso, chamou os magos e pediu que voltassem de Belém e trouxessem as notícias de onde nascera Jesus, para que ele também pudesse adorá-lo.

Após as palavras do rei, puseram-se a caminho. E a estrela, que tinham visto no Oriente, ia adiante deles, até que, chegando ao lugar onde estava o menino, parou. Ao ver a estrela sentiram grande alegria, e entrando na casa viram o menino com Maria, sua mãe. Prostraram-se, adoraram-no e, abrindo os cofres, ofereceram-lhe presentes: ouro, incenso e mirra (Mateus, 2, 9-11). 

Avisados em sonho, no entanto, os magos deixaram de atender ao soberano.

José, por sua vez, depois de receber avisos de um anjo, pegou Maria e o Menino, e com eles fugiu na direção do Egito.

Nesse meio tempo, vendo-se enganado pelos magos, Herodes mandou executar todas crianças de dois anos abaixo, nascidas em Belém e suas proximidades.

No transcurso da longa viagem, ainda em solo palestino, a Família Sagrada se aproximava de uma barreira policial. Mediante a revista de todos viajantes, aflita, Maria ouviu em si a voz do anjo lhe dizia:

- Passem com a verdade!

Quando abordados pelos romanos, que indagaram do conteúdo do cesto que transportava na lua-da-sela da montaria, ela respondeu:

- Aqui vem uma criança.

Ao ouvir a resposta, os guardas se entreolharam e prorromperam numa sonora gargalhada, enquanto um deles considerava em altos brados:

- Caso fosse mesmo uma criança o que levaria nesse cesto jamais teria a coragem de revelar.

E permitiram que eles continuassem a jornada sem qualquer objeção.

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

De volta a São Luís


Isto depois de 26 anos que lá estivera, quando a evidência maior correspondia só ao belo casario colonial, uma beleza de lugar digna da apreciação dos que gostam de conhecer as paisagens urbanas da história. Porém desta vez outra cidade se me apresentava quase esquecida do ritmo lerdo de antanho. Metrópole tropical de proporções gigantescas integra o lugar à vastidão litorânea, edificando com prédios imensos, caros, e avenidas aos poucos rasgando o primitivo das condições originais.

As tais avenidas abertas pelo progresso verificado nesta hora, isso para incorporar a nova São Luís aos espaços da ilha de antigamente, dos tempos portugueses e franceses, ainda mostram insuficiência a atender o boom imobiliário automobilístico deste período incerto da civilização industrial. Carros que não acabam já mais dominam as pistas e jardins, e determinam lentidão cataléptica ao movimento das pessoas no tabuleiro gigantesco daquelas planícies de beira mar. 

Diante da agenda a cumprir, só pude visitar o centro histórico no período da noite, avistando inteiro e conservado o rico patrimônio arquitetônico considerado primeiro dentre as heranças do período colonial. Belo traçado de becos e vielas, bem conservados, vários adquiridos por ricos estrangeiros, preenchidos de órgãos oficiais de cultura e turismo, marcas imorredouras da presença europeia naquele Brasil dos inícios.

Em meio à febre da propaganda eleitoral desta fase, de paredes e muros empanados de cartazes das variadas gentes candidatas, ainda circulei em um por de sol aberto pelas praias, parando no Trapiche e fotografando a maravilha luminosa da tarde ao som esfumaçado de grupo de reggae, toque jamaicano às cores daquele chão amorenado.

A intensidade, pois, da São Luís impressiona sobremodo, devido aos poderes com que ações financeiras do mundo capitalista querem reviver, no presente, passos empreendidos nas épocas do Novo Mundo, e fugia ao continente americano qual quem busca as portas do Paraíso. E a natureza maranhense, preservada no correr dos séculos abre outra vez suas carnes a esses exploradores. 

Através do Porto Itaqui, de São Luís, saem 30% do ferro consumido no resto do Planeta, procedentes das minas do Estado do Pará, seu vizinho. Ao longo da costa, lá estavam fundeados vários navios de largo calado, à espera de atracar e receber o minério transportado pela Ferrovia dos Carajás.   

Nisso tudo, algo de monumental transpira dessas visões de São Luís, o meio norte que prepara sonhos do Brasil do futuro.

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Vida no campo


Quem vive na cidade, sujeito ao brilho fosco das televisões e dos computadores, talvez encontre dificuldade para imaginar os prazeres de quem mora no campo, ali juntinho da Mãe Natureza, onde o silêncio dos vales e das colinas une forças com o ciciar dos ventos nas árvores, o canto dos pássaros alegres no amanhecer do dia, o frio gostoso das madrugadas, sob o conforto gostoso de cobertas aquecidas. Um clima bucólico a tudo envolve até o fim do dia, aos derradeiros raios do Sol filtrado na folhagem, tangido pelos pios saudosos das aves noturnas, entrecortados nos estrilos das andorinhas ligeiras a cruzar os céus. Uma sinfonia de beleza, festa harmoniosa das existências próximas das matas, de estio a inverno.

Porém tais bonomias determinam custos elevados, hoje mais do que antes, face aos valores da acomodação industrial. Isto por vezes impagável.

A morada nos ditos lugares afastados da civilização eletrônica das cidades implica numa série de exigentes determinações. Primeiro, achar esse pouso de sonho tardio a preço razoável, no poder do orçamento familiar. Depois, as burocracias de contar com alguém que possa dividir as tarefas e trabalheiras exaustivas, enquanto se busca, nos gabinetes das aglomerações urbanas, o sustento das condições necessárias às penas pecuniárias que isso requer. Educar filhos, transporte, abastecimento, impostos e taxas, vestuário, lazer e turismo em voga, energia, comunicação, etc.

Enquanto isto, os cachorros vigilantes da área exigem cuidados de rotina; há que existir água de beber, de banho e cozinha; meios de segurança; higiene ambiental; forte carência de pessoas que possam realizar afazeres domésticos, limpeza, arrumação e refeições. A distância dos centros de abastecimento reclama idas e vindas aos mercantis, feiras e sacolões, acima de tudo o mais.

Bom, a existência pastoril nos tempos que transcorrem, ainda que profundamente gratificante e prazerosa, reclama custos heróicos em termos de carregar sacos, caixas e pacotes dos empórios comerciais aos armários da casa. 

Assim, entretanto, no toma lá, dá cá, de jornadas cotidianas, face às malhas da lei da compensação, ansiar pela paz do campo precisa de coragem e persistência, pois o sonho de seguir adiante no viver determina condições e prática de amor ao bem estar da família.

terça-feira, 21 de agosto de 2012

Aspectos contraditórios


Os materialistas quiseram negar o princípio abstrato da Natureza, mas como fazer isso sem usar o pensamento e a vontade, que, a seu modo, também compõem esse mesmo princípio abstrato?! E no uso da vida, que funciona sob conceitos abstratos, dentro do tempo, fator por demais impalpável que se manifesta e estabelece condições ausentes de tridimensionalidade material?!

Presenciar as consequências das ações alheias alimenta o aprendizado humano e economiza o sofrimento de que presenciar. O esforço de obter o equilíbrio necessário à vida exige, pois, utilização desse princípio natural, o que representa atitude voluntariosa, fruto das existências irreversíveis, imperceptíveis do ponto de vista só material.

O simbolismo de quase tudo o que ocorre em volta, desde o som às mudanças de temperatura, valores coletivos, doutrinas políticas, sociais, religiosas, movimentações deste plano físico, se dão sob níveis de percepção dos sentidos, por si regidos pela ordem nervosa da área das sensações abstratas do mundo das ideias.

Por que, então, a dúvida quanto às conotações espirituais, para pretensos materialistas?

Os chineses de antigamente incluíram na dominação materialista os fenômenos, o universo das cenas invisíveis, espirituais, âmbito das energias, somando tudo ao todo universal. Essa intemperança dos filósofos ocidentais, contudo, restringiu as suas observações aos fenômenos observáveis diante do restrito domínio de controles estabelecidos na ciência oficial, estágio apenas mensurável e repetitivo do método adotado.

Vistas em confronto as duas correntes filosóficas clássicas, porquanto agora o Oriente é quem corre atrás das produções industriais de concorrência, para impor sobrevivência perante os povos mercantilistas do Ocidente, pouca herança ainda existe das lembranças desse passado adormecido, quando imperava as técnicas alimentares e os costumes de tratamento à base de escolas trazidas pelas guerras e migrações ao lado de cá do Planeta. O que fora um materialismo agregador, holístico, dos chineses, ora virou materialismo resultado, objetos e transações comerciais talvez mais tacanhos do que os das frias escolas ocidentais.

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

O poder da palavra escrita


Uma palavra pode mudar vidas, abrir caminhos, gerar oportunidades inesgotáveis. A palavra escrita, derivação mais recente da palavra, corresponde à maior das revoluções de toda a Humanidade.

Nos inícios do uso da palavra, houve a suposição de que servia sua utilização aos grupamentos das pessoas nos rituais coletivos, religiosos, por exemplo; nos cânticos, nas representações teatrais, nos comandos das batalhas, nos pregões dos mercados, julgamentos, etc. Lá depois, com a escrita, surgiu a prática da leitura silenciosa nas celas dos mosteiros, nas escolas, nos templos. 

Há pouco, li no livro Descobrindo Deus nos lugares mais inesperados, publicado pela Editora Mundo Cristão – São Paulo, autoria de Philip Yancey, algo a respeito de uma cena do filme Hábito negro (Black robe), onde um missionário jesuíta procura convencer cacique huroniano a deixar alfabetizar sua tribo. Relutava o chefe selvagem, no entanto, pois negava quaisquer benefícios em rabiscar papéis, atrasando o trabalho dos guerreiros. Nisso, o jesuíta resolve submetê-lo a uma experiência, e pede: 

- Conte-me algo que ainda não sei.

Depois de pensar alguns instantes, o cacique respondeu: - A mãe de minha mulher morreu no inverno passado.

Nessa hora, o jesuíta pega de um papel e nele escreve algumas palavras. Em seguida se dirige a outro missionário, fora do recinto em que conversavam, e lhe passa o papel. O novo personagem lê o que continha, olha para o cacique e interroga:

- Sua sogra morreu numa nevasca?

Segundo as textuais palavras do autor do livro citado: O cacique dá um salto para trás, alarmado. Ele foi pego de surpresa pelo poder mágico da escrita, que permite que o conhecimento dê saltos no espaço e viaje silenciosamente por meio dos símbolos.

Longe ainda estamos de avaliar com a profundidade suficiente o poder que a palavra escrita possui no intuito de elaborar novas consciências e abrir as perspectivas da Civilização. Contudo, o tempo segue infinito neste ensejo de que necessitam os seres humanos até realizar em cheio a descoberta libertadora do saber transformador e surpreendente.         

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

A arte de ser positivo


Nas variantes de práticas adotadas, as palavras prestam inúmeras facilidades, das quais a principal sobrevive em meios adversos, oferecendo formas de superar bloqueios e contradições. Há sempre palavras que mostram alternativas, conduzem negócios, informam possibilidades, germinam saborosos frutos inúmeras vezes, matrizes do sucesso pleno. Os desdobramentos e acontecimentos abrem, com isso, janelas e portas imensas, donde saem (das palavras) os conceitos seguidos das atitudes. 

Viver, portanto, quase significa estabelecer estados de compreensão das coisas deste mundo através das palavras formulam através dos pensamentos que a elas formularam palavras, no juízo de cada criatura humana.

Destarte, a relação entre conceitos, ações e os sentimentos, somados, determina o estilo da vida que prevalece nas vontades individuais e no plano das coletividades.

Assim, pessoas aborrecidas quase nunca sabem formular conceitos diferentes daquilo que todo dia praticam. Desempenham nas palavras e pensamentos o que acostumaram, na prática cotidiana, usar, pois o cachimbo põe a boca torta. Criam hábitos nocivos e deles se alimentam qual ficção natural, como quem diz a si não haver outro jeito de exercitar a existência senão sofrendo as amarguras e o desespero, na angústia de caminhar. 

Noutras palavras, se conformam naquilo que lhes prejudica. Mesmo tolerando altos tombos, arrastam os pés quais seres frustrados e arrependidos, em tudo e por tudo vítimas na incoerência do sistema que adotam pela condenação antecipada do medo e da culpa, primos entre si.

Navegar é preciso; viver não é preciso, considerou Fernando Pessoa, verso que casa feito luva no modo existencial do viver só por viver, ao sabor das marés, entregue às ondas tempestuosas do desânimo e das enxaquecas, desilusões ao vento.

No entanto, falar de outro jeito de viver, do viver positivo contém milhões de esperanças pulando acesas em nosso caminho. Aquilo de reagir do gesto mecânico de apenas se abandonar às vagas a pura sorte. Porquanto há o estilo melhorado de tratar a condição humana, o trato habilidoso de conceitos revolucionários. Gerar palavras e sentimentos agradáveis, tecidos na malha da vontade livre e, em consequência, elaborar atitudes de ânimo construtivas em si e na sociedade harmoniosa e progressista.

terça-feira, 14 de agosto de 2012

Humildade da crença

À medida que o fiel abrirá mão dos aparato da racionalidade humana, só então estabelecerá contato possível junto ao Eterno. No apego à antiga razão, por isso reside na distância de abrir seu coração e desvendar os mistérios essenciais da Fé, o instrumento valioso das respostas de que precisa. Enquanto insistisse querer explicações racionais da espiritualidade, o homem, em sua condição limitada, jamais acharia a porta dessa imortalidade sonhada.

Daí a urgência mínima de humildade no sentido de encontrar a sublimidade do Ser, causa de Tudo. Eis a força que moverá até a fidelidade da eterna Graça eterna. Abrir mão dos valores da chamada Razão, eis, pois, o critério da transformação de virtudes em bênçãos. 

Quaisquer denominações evidenciam este passo definitivo, na caminhada dos peregrinos deste chão comum. 

Espécie de pacto às avessas, na busca de Deus existe esse desencontro consigo próprio, desespero do egoísmo, inutilidade da egossalvação revertida na concretização do Eu Maior. Nisso o inteiro abandono de si em Si. Já não sou eu quem vive, é Jesus que vive em mim, das palavras de Paulo de Tarso, no caminho de Damasco, do Novo Testamento bíblico. Eu e o Pai somos um Só, no dizer de Jesus. 

Ato contínuo do mergulho nesse absurdo às leis humanas, o Ser crescerá no seu mesmo desaparecimento. A semente morrerá para permitir nasceres árvores, alquimia fundamental da alma divina.
Em uma parábola oriental, quando ferido por seta envenenada, um guerreido vem trazido ao médico que iria lhe curar do sofrimento, e insiste evitar o tratamento se antes saber o autor do disparo que o vitimara:

- Ah, não! Ninguém irá mexer na seta até eu saber quem me feriu; se ele é da casta dos sacerdotes ou dos guerreiros; dos artesões ou dos servos; qual seu nome, sua linhagem; se alto, baixo ou pequeno...

Na hora solene, alguém a exigir explicações intermináveis para todas as perguntas, e de certeza aumentaria o risco do desespero e da dor.

Assim os que buscam a Verdade na essência de Tudo, enquanto avançam nas perguntas se sujeitam perder respostas vivas diante dos altares da Eternidade. Esqueceriam a presença constante da Luz aqui ao lado. Requentar as divagações do pensamento sob o pretexto de buscar revelações ilusórias lá longe do sentimento vivo do Amor. 

Nessa oportunidade, caberá o passo providencial da Consciência nas asas abertas do Destino promissor.

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Mestre Vicente Marques


Iniciada no governo municipal de Raimundo Bezerra e concluída no de Moacir Siqueira, a reforma da praça Francisco Sá, em Crato, evidenciou a beleza daquele que muitos consideram o nosso logradouro mais pitoresco.

Também conhecida por praça da Estação, pois nela chegavam as composições da linha férrea, guarda em seu centro a Coluna da Hora, encimada pelo Cristo Redentor, de braços abertos para o Nascente, nas dimensões proporcionais às da estátua do Corcovado, no Rio de Janeiro.

A edificação desse monumento de intenso bom gosto se deveu ao prefeito Alexandre Arraes de Alencar, em 1938, sob a orientação do arquiteto-escultor Agostinho Balmes Odisio, mestre italiano responsável pelo trabalho, segundo consta numa das faces do pedestal.

No entanto, vale aqui destacar observação que ouvi de Raimundo Nonato Marques, no decorrer dos dias da Exposição cratense deste ano de 1999. Afirmou ele que, nos créditos dados ao escultor da imagem do Cristo, existe a omissão de um nome que jamais deveria estar ausente. Trata-se de Vicente Marques da Silva, imaginário nascido em 06 de janeiro de 1908, na cidade de Juazeiro do Norte, e que viveu em Crato por longo tempo, um dos irmãos de Raimundo Marques, Mundinho, autor da Samaritana, uma das fontes da praça, inaugurada em 21 de junho de 1952, e goleador emérito do futebol de antanho, falecido vítima de acidente de automóvel numa das ruas centrais da cidade. 

Segundo Nonato Marques, artista plástico que nasceu em Crato, no ano de 1945, e ora vive em Salvador, nono filho dentre os 22 de Vicente Marques, seu pai começou a trabalhar na arte da marmorearia aos nove anos, tendo logo cedo se destacado como aprendiz do prof. Agostinho Odisio, este que contratara, através de sua firma, a obra da estátua do Cristo Redentor, transferindo ao aluno a responsabilidade exclusiva pela sua execução primorosa.

Na produção desse trabalho foram, primeiro, feitas as várias peças, 18 pedaços, no total, em barro cerâmico para, em seguida, confeccionar as formas de gesso nas quais se fez a fundição de cimento e depois a montagem definitiva, no ponto em que hoje se instala. 

Muitos cratenses recordam de Vicente Marques e seus familiares, que na década de 50 migraram para Manaus, deixando nesta terra a oficina de marmorito onde trabalhavam, à Rua José Carvalho, por trás da Sé Catedral. Foi na capital do Amazonas, em 17 de junho de 1994, o seu falecimento. 

Ficam aqui, portanto, as informações consignadas, no intuito de propiciar, depois de muitos anos, justos reparos na memória dos que vêm auxiliando o crescimento desta cidade, onde há lugar para as pessoas de boa vontade, segundo consta da mesma coluna da Praça do Cristo Rei (a Francisco Sá), em Crato.                      

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Comícios

Ainda criança, menino de calças curtas, e assisti ao primeiro comício. Cedo da noite, o palanque fora armado numa das calçadas laterais da Praça Francisco Sá (Cristo Rei), defronte ao prédio onde agora funciona o gamão, vizinho, na época, a loja pertencente a Hilário Lucetti, do ramo de discos. 

Era um comício do Partido Trabalhista Brasileiro - PTB. Dentre os oradores daquela noite revejo de memória as pessoas de Saturnino Candeia e Francisco Ferreira de Assis, dois políticos engajados nas lutas operárias, agremiação que dominara a cena brasileira durante os longos anos de Getúlio Vargas. Em 1954, haviam perdido o líder, tragédia que marcara a história do Brasil contemporâneo. Naquela noite, lutavam por lugares ao sol na política cratense. Saturnino Candeia chegaria a vereador e Ferreira de Assis a deputado estadual, ambos com boa atuação nos respectivos mandatos.

Algo me impressionava, sobretudo o batuque da charanga, os fogos e o movimento de faixas e bandeiras, agitadas, com força, próximas ao palanque. Isso de certeza aumentava o ânimo dos presentes, causando motivação e crescendo o entusiasmo dos eleitores. Só lá adiante, porém, quando vim participar das refregas de campanha, é que notei ser esse direcionamento  fruto do esforço dos próprios candidatos, para aquecer a campanha e conquistar profissionalmente os responsáveis dos votos, os quais, naquela hora imaginei, fossem ações espontâneas, das bases eleitorais interessadas na eleição dos representantes autênticos. 

Depois, então, quando já falam em gastos públicos de campanha para nivelar os diversos postulantes aos cargos sob o mesmo padrão de orçamento, sinto a urgente necessidade desta legislação eleitoral que tratará ricos e pobres sob iguais condições de propaganda. Seria, com isso, eliminada de vez a discriminação financeira ora predominante, em que os poderosos das finanças exercitam maior influência através dos meios da publicidade e comem, ao final, a rifa dos regimes.

Tudo sem falar nas demais influências, apesar da permanente vigilância da Lei no combate ao comércio ilegal do voto e da derrama dos dinheiros nos turnos, excrescência característica dos atrasos nacionais.

A propósito, na derradeira eleição municipal, em Crato, no dia do pleito, sem intenções de bisbilhotar flagraria diálogo estabelecido entre duas eleitoras que desciam a Rua Bruno de Menezes, e uma delas, creio que inocentemente, externava, em alto e bom, som a seguinte expressão:

- Mas, mulher, será possível... Até agora não achei quem quisesse comprar o meu voto?!!!

terça-feira, 7 de agosto de 2012

Álbuns de figurinhas


Aqui me observo, outra vez, a percorrer florestas de memórias à cata das lembranças da meninice, de sonhos e saudades, gosto em que a gente que escreve insiste, a transformar momentos anteriores em letras e histórias. E recordo ali na segunda metade dos anos 50 quando publicaram álbuns de figurinhas das cenas de sucessos cinematográficos, mania das crianças que acompanharam os lançamentos dessas superproduções, quais Marcelino, pão e vinho, Os dez mandamentos e Ben-Hur, títulos que preservo nas malhas dessas recordações.  

Tais películas demoraram chegar, primeiro, avisadas pelos jornais do Sul e de Fortaleza, e pelos cartazes afixados nas antessalas dos cinemas e pelas revistas de maior circulação, naquele tempo, O Cruzeiro e Manchete. Custaram meses, talvez mais de ano, para serem exibidas no Cariri.

Antes mesmo dos filmes virem às telas, as livrarias e bancas já vendiam os álbuns e passavam a fornecer os envelopes correspondentes, em geral com três figurinhas cada um, a corresponder aos quadros distribuídos nas páginas. A garotada vibrava para preencher os claros, havendo procura de multidões às remessas, que vinham e logo sumiam, diante da ansiosa freguesia. Serviam de mídia aos lançamentos dos filmes e dominavam o mercado das massas.

Depois de esgotadas, as figurinhas viravam moeda de troca nas mãos dos aficionados, o que alimentava um comércio paralelo nos aglomerados das praças e entradas das salas de projeção. Algumas dessas estampas, devido à raridade, em alguns casos, atingiam preços acima do normal, face ao desejo de se completar os álbuns, por vezes sob a participação dos próprios pais dos meninos, porquanto a predileção não raro sensibilizava mais outras faixas etárias.

Lembro bem das emoções de haver, nessa época, pegado um ônibus e me deslocado, na companhia de Luciano de Souza, rapaz que trabalhava com meus pais, à busca de saquinhos das figuras do filme Ben-Hur, sucesso de bilheteria de 1959, do diretor Cecil B. de Mille, e que, em 1956, dirigira Os dez mandamentos, ambos de amplo sucesso no mundo inteiro. 

Assim, em toda fase existem os interesses das crianças, ilustrando seus dias através dos pequenos mimos, prazeres inestimáveis e fugidios que nutrem de satisfação o maravilhoso período da infância.  

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Uma luta cívica


Em todos os quadrantes, a mobilização da sociedade requer lideranças necessárias, porquanto a ação só se realiza dentro do âmbito da iniciativa de condutores dos grupos sociais. Nisso também, e, portanto, a redução e a completa eliminação do cancro das drogas, no seio da humanidade, que reclama tais valores de comando.

Sabe-se à fartura quantas preocupações e prejuízo acarretam as drogas ilícitas (maconha, cocaína (crack) e morfina) e lícitas (cigarro e álcool). Jamais viveu-se tanta crise, como a intensificação da violência, em face do consumo dessas substâncias, sobretudo entre a mocidade, coisa que atinge milhões de famílias, no País inteiro.

As alternativas sadias de combate a essa medusa de mil tentáculos não parecem levar vantagem na guerra contra o uso das drogas, agente destrutivo de lares, vidas e esperanças em uma sociedade mais harmônica.
A utilização continuada desses elementos conduz à degenerescência humana, parasitando alegria, saúde, inteligência e aptidões de gerações sucessivas, nos tempos de consumo e ganância de lucros dagora. Os números dos recursos financeiros movimentados pelas drogas, no mundo, perdem apenas para a indústria armamentista, o que denota a crise moral dos seres humanos, nesta quadra histórica.

No entanto, a luta há de prosseguir, dados os indivíduos sãos que ainda persistem, à frente de cruzadas e lideranças. Mediante a prática dos princípios corretos e heróicos, salvar-se-ão os esteios e as instituições. Nisso a matéria prima impera no seio das famílias e na alma dos cidadãos. 

A solução, por isso, exigir atenção de políticos, educadores, pais da família, religiosos, autoridades, para fazer face à avalanche crescente. Uma empreitada monumental se impõe a todos, face ao desequilíbrio das crises econômicas e seus efeitos na ausência de emprego, de políticas adequadas de formação de mão-de-obra, condução realista de métodos repressores e saneadores antidrogas e o outras limitações, sobretudo nos países mais atrasados.

Essa consciência benfazeja envolve as lideranças naturais, donde, por certo, resultarão posições e efeitos válidos.De nada adiantaria apenas protestar do escuro e não nenhuma providência concretizar neste sentido de encontrar alternativas de criatividade que acendam as luzes de largas transformações para salvar a juventude. 

O egoísmo de muitos ocasionou o desinteresse e produziu maus exemplos. A indiferença compromete, inclusive, o amanhã. E ações úteis de uma cruzada constante e firmes propósitos renovarão os sonhos do futuro. 
    

domingo, 5 de agosto de 2012

4.732


Sempre que retornava, ali estava ele, 4.732, a lhe esperar de braços abertos, às vezes com um buquê de rosas amarelas escondidas atrás das costas, para logo explodir num riso franco, a mostrar todos os dentes, enquanto passava o outro braço pela sua cintura feliz, altaneira. Um par perfeito, ela e 4.732. Ninguém de consciência em ordem acrescentaria qualquer mácula àquele relacionamento de promissão.

Viajasse, jamais 4.732 deixaria de mandar-lhe mensagens variadas nos meios ao dispor, épocas eletrônicas digitais, fossem de transatlânticos, aeroportos, shoppings, livrarias... Importava que não lhe restasse esquecido o contato de sonhos que alimentavam qual raça de bicho em extinção, amor de almanaque que vivia às 24 horas, nos tempos de ecologia militante dessa fase da civilização, chovesse ou fizesse sol, razão primeira de várias existências juntos.

Numa dessas andanças por esse mundo, atravessou pelo juízo de 4.732, tipo de bólido intruso, pesadelo doloroso, quando, em lampejo onírico, simulou-se um retorno sem a presença de um deles dois, que ela houvesse buscado por ele sem achar, frustração de não ter mais tamanho, contudo fora de quaisquer cogitações, porquanto alimentavam durasse a relação infinitos mundos e séculos eternais.

Depois daquilo, precedente funesto de haverem perdido contato ainda que em sonho, 4.732 desconfiou que algo de anormal pudesse conspirar, quem sabe para desaguar num dia comum?, a ocorrer no fluir das tantas reencarnações por eles já vivenciadas com êxito pleno, a ponto de nutrirem a certeza certa de um par perene.

O pensamento plasma acontecimentos quando fixado na intensidade suficiente. Mas não se pretende considerar que essa realidade visse pelo pensamento. No entanto, belo dia de verão, sol aberto, céu claro de poucas nuvens, brisa quente no rosto suado, ela chega em casa após dia de trabalho intenso. Baixou os pacotes sobre a mesa da sala de jantar, passou a vista pelos diversos cômodos, e nada que denunciasse a presença constante de 4.732, caso permanecesse na cidade. 

- Beeheeem!!!!?????... Beeeeeheeeeem?...

Estirou o longo pescoço de dama distinta aos quatro cantos do quintal, e um vazio dolorido de quando a pessoa amada se ausenta sem deixar vestígios além do augúrio da saudade a perfurar vertigem na barriga dos medos abandonados antes de encontrar a pessoa amada, esperança boa. Nenhuma vivalma fez o gesto de entrar no palco do instante.

Ela viu-se preocupada ao notar primeiros sinais de impaciência aparecendo por baixo dos lençóis frios da cama por fazer da manhãzinha, na pressa de sair para o trabalho. Esquecera de fechar a janela, nem perguntara a 4.732 quanto ainda permaneceria em casa antes dos compromissos vespertinos.

Desceu a escada sinuosa rumo ao porão. Nisso percebeu as lágrimas rasgando caminhos do peito através dos olhos ressecados e descer rugas abaixo que lhe habitava o rosto, nos trilhos laterais do nariz, preço que pagava por dormir pressionando a face contra o travesseiro cheio de ervas do campo.

Na solidão invasora que chegava de surpresa, apenas conseguiu recolher as roupas secas do varal, antevéspera de chuva ligeira que lhe misturava o choro, na fisionomia lamacenta dos derradeiros resquícios de maquiagem improvisada no escuro da madrugada. As réstias escassas de luz trouxeram ao espelho marcas finais da lembrança que para ela agora retornavam longe, visão preciosa de 4.732 a puxar uma mala pelo galpão da rodoviária barulhenta, despedida suave e silenciosa dos dois, sob o testemunho absorto dele próprio.

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

O poder da conveniência


A essa altura dos acontecimentos, poucos cidadãos acreditam que se chegue no termo bom e válido de todos esses rompantes de denúncia, acreditadas ou não, que invadiram a mídia e fizeram festas dos milhões de telespectadores afeitos à enganação sensacionalista dos tempos modernos, por via de uma televisão mãe de todos os males da hora crítica, agonizante. Quer-se, a qualquer custo, o anestésico dos dias iguais em que viraram as seqüências repetitivas dos nasceres e pores de sol e seus programas amestrados. 

Mas seria confiar demasiado naqueles que lá chegaram por força da permissão dos poderes constituídos pela macroestrutura e pelos vícios do sistema esperar que métodos diferenciados pudessem aflorar, sem mais nem menos, diante de tudo aquilo imposto pelos proprietários da riqueza e seus esquemas espúrios de manter-se no auge da posição, domínio comum das massas humanas de rebanho. As práticas são essas, e pronto, quem quiser que conte outra...

Diante, pois, disso em que se reverteram os escores parlamentares nacionais, matriz de tanta crítica, aqui e no estrangeiro, acalmam-se os nervos à espreita dos próximos capítulos dessa novela de notícias que já se sabia muito antes de conhecer.

Não poucas vezes sonhos quiseram dominar o tablado real, sem, contudo, disporem das mínimas possibilidades a que tanto acontecesse, deixando de fora os idealistas que vem e vão ao sabor das safras de sonhadores alienados, cobradores de espaço na ilusão das hordas despersonalizadas e submissas.

No andar dos tempos, vez em quando, eclodem as grandes catástrofes de conquista, a pretexto de nortear o sopro dos ventos econômicos. Guerras santas, de mercado, racistas, pluralistas, fontes inesgotáveis das divisas dos industriais das armas de ponta,  que pululam no mundo inteiro, ao sabor das contingências e dos valores, marcas indeléveis da fome de poder que impera na face deste chão rico de chances naturais.

Querer diferente impõe margem de erro que se acha fora de quaisquer cogitações oficiais. O primata vaga, portanto, nesse mata-borrão à cata do que comer e come poluído, regrado e químico, era de poucos amigos e muitos concorrentes.

O tipo médio de pessoa de hoje pouco sabe do que ocorre além da história permitida, conquanto as ações do controle social raiam limites jamais avaliados na ficção corrosiva dos arautos pessimistas da primeira metade do século XX. A mediocrização dos seres humanos anulou perspectivas revolucionárias e o fruto de tal imposição varia do zero ao infinito, por conta dos meios de comunicação de massa.

Assim, meios de comunicação de massa e poder econômico geram poder político, o que, a modo seu, resulta em novos meios de massa e poder econômico, no ciclo persistente da dominação capitalista selvagem, de homens medíocres feitos crias de chocadeira, as quais são transformadas em votos, numa pseudo-democracia que nada indica seja o quadro transformado antes dos fins dos tempos conhecidos, no trilho de uma consciência ora apenas em fase de germinação.